No mês da Consciência Negra, um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta uma triste realidade brasileira: a pandemia do coronavírus aumentou a desigualdade entre negros e não negros no mercado de trabalho.

Em 2020, entre o primeiro e o segundo trimestre, 8,9 milhões de trabalhadores perderam o emprego ou deixaram de procurar por achar que não conseguiriam recolocação. Deste total, 6,4 milhões (71,4%) eram negros. Como 56,1% da população do país é negra, fica nítido que as consequências da pandemia foram proporcionalmente piores para esse grupo.

Segundo o Dieese, que analisou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, a crise sanitária deu mais força ao racismo estrutural, com suas práticas discriminatórias, institucionais, históricas e culturais. Mesmo com a retomada gradual das atividades, os negros permanecem com uma taxa de desemprego mais elevada – neste segundo semestre de 2021 o percentual está em 13,2%, enquanto que, para os não negros, o desemprego atinge 9,8%. 

 

Trabalho sem carteira assinada predomina no Nordeste


Em outro levantamento recentemente divulgado, o Dieese revela que a maioria dos negros nordestinos trabalha sem registro formal. Com exceção do Rio Grande do Norte, onde 49% das pessoas negras trabalham desprotegidas, em todos os estados da região o percentual supera os 50%. O estudo refere-se ao segundo trimestre de 2021.

Na Bahia, por exemplo, 53% das mulheres e 59% dos homens negros trabalhando sem vínculo empregatício. Eles são autônomos que não contribuem com a Previdência Social ou trabalhadores de familiares auxiliares, sem remuneração.

Em Pernambuco, 54% das mulheres negras não têm carteira assinada. Em comparação, esse índice é de 50% entre não negras. A mesma diferença é percebida entre os homens negros - 57% não possuem registro formal, sendo que essa condição atinge 52% dos não negros.

Ainda de acordo com o levantamento do Dieese, na região Nordeste as mulheres negras ganham cerca de R$ 1.334 mensais, enquanto as não negras recebem em média R$ 2.060. Em proporção semelhante, a média da remuneração dos homens negros é R$ 1.540, enquanto os não negros recebem R$ 2.397.

 

O papel da Fenatibref


A população negra é maioria entre os empregados da categoria. Por isso, todas as nossas ações voltadas para a preservação dos empregos e do poder de compra dos salários são também ações para minimizar a maior vulnerabilidade desse grupo social. Ao longo do ano, orientamos os sindicatos regionais em negociações com o sindicato patronal, atuações em dissídios coletivos e atendimento jurídico aos trabalhadores que representamos, em ações coletivas e individuais. Os benefícios conquistados pela nossa atuação, como assistência à saúde, seguros e descontos em produtos e serviços, também visam melhorar as condições de trabalho e de vida dos empregados. As parcerias com instituições de ensino também facilitam a qualificação profissional, que, por sua vez, tende a melhorar a empregabilidade e faixa de remuneração.

Os desafios, enormes, são amplificados pelo atual cenário nacional, com inflação em alta, pequeno crescimento do PIB e ausência de propostas que indiquem melhoras a curto prazo. Por tudo isso, nossa união é fundamental na luta por dignidade profissional. Em janeiro haverá mais uma negociação da Convenção Coletiva de Trabalho. Que possamos alcançar resultados positivos para todos e prosseguir em direção a um país com mais igualdade e justiça social.